O mercado de saúde brasileiro enfrenta um momento bastante desafiador no que se refere à sua sustentabilidade. Altos custos, aumento de atendimento na rede pública e nas instituições filantrópicas de pacientes que perderam o convênio médico das suas empresas, duras negociações financeiras com as operadoras de saúde, necessidade de revisar custos de materiais e medicamentos, renegociar custos de procedimentos etc. O próprio sistema de saúde precisa ser inteiramente revisto. Além disso, na área de pessoas, já se percebe um apagão de mão de obra, principalmente decorrente da recente pandemia, e dificuldade de contratação pela capacitação que é oferecida no mercado, que está abaixo da necessidade.
As instituições enfrentam um absenteísmo e um turnover elevado, principalmente devido ao cansaço físico e mental dos profissionais. Constata-se que grande parte dos jovens que se formam na área desistem de seguir a carreira, devido à remuneração e à carga de trabalho que é elevada, tanto física quanto emocional. Muitos profissionais trabalham em jornada de 12×36 horas de descanso, porém, não descansam. A maioria tem dois empregos para poder bancar as despesas da casa; além disso, as mulheres, também maioria na área, acumulam as responsabilidades da casa junto aos filhos etc.
Como eu digo, ninguém procura um hospital ou uma clínica para passar férias, todos vão com problemas físicos e emocionais juntos; além disso, também os acompanhantes exigem atenção, às vezes mais que os pacientes, porque também estão emocionalmente abalados.
As instituições de saúde também são exemplos da sociedade em que vivemos; assim como todos nós, os profissionais têm seus problemas familiares, muitos deles graves, dificuldades financeiras, problemas com moradia, com transporte e tantos outros que fazem parte do nosso dia a dia. Ninguém deixa seus problemas em casa e vai para o trabalho. No dia a dia enfrentam uma jornada cansativa e sofrem uma carga emocional intensa; o trabalho exige muita atenção, porque qualquer erro pode colocar a vida do paciente em risco, trazer consequências para as famílias e pode causar danos irreversíveis para o empregador. Fala-se muito em doença mental, porém, eu entendo que o profissional carrega os seus problemas, não consegue compartilhar, muitas vezes não é acolhido pelo seu líder, não consegue resolvê-los e qualquer “gatilho” que a empresa lhe apresente, principalmente quando parte da liderança, o coloca no limite da ação, que o leva a baixar a produtividade, a faltar, a se afastar do trabalho, a deixar a empresa ou mesmo a tomar decisões muito mais drásticas com a própria vida. Então, tratar somente o efeito “doença mental” não é suficiente, é necessário descobrir e tratar a causa e o início da solução deve vir da própria liderança direta e do sistema de Gestão de Pessoas da empresa.
Serviço é uma atividade cansativa e na área da Saúde é muito mais. Para se fazer um bom serviço, ter custos compatíveis com o planejado e uma imagem adequada no mercado é necessário ter um bom time, começando por um bom líder, principalmente quando se trata do time do “beira leito” considerando indistintamente todas as funções que o compõe. É ali que acontece o acolhimento e o tratamento do paciente e seus familiares, o cuidado com os procedimentos e processos para evitar os eventos adversos, o controle do desperdício de materiais e medicamentos, a satisfação do cliente que gera a imagem da empresa no mercado etc.
O líder, por menor que seja o seu nível hierárquico, tem a responsabilidade pelo resultado do negócio e pela imagem da empresa no mercado. Assim, ele tem que estar preparado, tem que conhecer e entender a sua responsabilidade e saber conduzir o seu time de maneira adequada. Conduzir de maneira adequada significa ser, em primeiro lugar, um “líder servidor” que acolhe, que escuta, que procura e orienta solução para que seu colaborador tenha um bom desempenho, se sinta cuidado, dê o melhor de si e tenha orgulho da empresa onde trabalha, porque se sente respeitado e acolhido, onde passa a maior parte do seu tempo. O líder precisa se autoconhecer, utilizar seus mais nobres valores positivos que todo ser humano possui guardado dentro do peito e cuidar de pessoas em primeiro lugar, para conseguir bons resultados no trabalho. Para isso, precisa fazer uma liderança humanizada, que chamamos de liderança espiritualizada, nada a ver com religião. Quem faz o resultado são as pessoas.
A área de Gestão de Pessoas tem que prover apoio para essa liderança e oferecer orientação, serviços e soluções internas e externas que venham de encontro às necessidades apresentadas. Com certeza, um colaborador bem acolhido, respeitado e bem tratado, tem uma produtividade boa, consegue ser cuidadoso, evita riscos, se ausenta menos, permanece mais, tem sentimento de pertencimento e colabora significativamente com a imagem da empresa no acolhimento e no cuidado com seus pacientes e familiares. Cuidar de pessoas em Saúde necessita de serviço humanizado e ele começa pelo líder do time. Portanto, é fundamental que a empresa, seja um hospital ou não, promova um excelente serviço de saúde e segurança no trabalho e que acolha e cuide de quem cuida dos outros, capacitando e promovendo uma liderança humanizada.
Lélio Tocchio